Sustentabilidade

Sustentabilidade

Por: BK Jayanti Kirpalani – Diretora da Brahma Kumaris na Europa

A espiritualidade me ensinou que não podemos simplesmente dizer: “Deixe-me mudar as coisas lá fora”. Em vez disso, vocês têm que ver o que é que podem fazer para mudar a si mesmos, de forma a contribuir para um mundo melhor. Da mesma forma, a sustentabilidade é muito mais do que o planeamento de cidades, o planeamento de casas etc. Ela implica três níveis fundamentais: sustentar o eu, sustentar os relacionamentos e sustentar as comunidades.

Sustentabilidade de dentro para fora

Primeiro, precisamos reservar algum tempo para irmos para dentro de nós mesmos, criando a percepção correta, a atitude correta e a consciência correta. É somente então que podemos começar a pensar sobre como podemos ter um estilo de vida sustentável e um mundo sustentável.

Como é que posso então sustentar-me? A palavra mais importante que me vem à mente é “respeito”. Se eu me valorizo e respeito, serei capaz de me sustentar. Ao desenvolver essa auto-consciência, também serei capaz de respeitar aos outros e, com base nisso, construir um relacionamento sustentável.

Vocês já viram, conheceram ou tiveram algum relacionamento no qual tenha faltado respeito? “Eu posso te amar mais tarde, mas que eu possa, primeiro, desenvolver a capacidade de te respeitar. Só então posso iniciar o processo de te conhecer melhor – talvez mesmo chegando ao ponto de te amar”. Este nível de respeito pode levar ao respeito pela comunidade como um todo – não apenas a alguns indivíduos, mas a comunidade na sua totalidade, porque eu acredito na força do coletivo.

Quando o coletivo se une, a multiplicação das energias é muito maior do que aquilo que eu posso alcançar sozinha. Se dez pessoas estiverem juntas por três horas, podem conseguir algo surpreendente. Eu poderia passar 30 horas sozinha e ainda assim não conseguiria chegar perto do que poderíamos ter feito juntos. Assim, o respeito pelo coletivo, a comunidade, é verdadeiramente a fundação do progresso para o futuro. E ao olharmos em frente e desenvolvermos este conceito de respeito, então pensaremos não apenas na comunidade, mas também no mundo em geral, e em todo o planeta.

Precisamos nos perguntar até que ponto estamos respeitando esta casa que nos foi dada. Nós não a criamos, mas ela foi dada para nós como um presente. Ela foi descrita como uma pérola azul muito preciosa, que os astronautas puderam ver à distância – a única pérola azul conhecida até hoje… Este lugar muito precioso é a nossa casa. Temos também que nos questionar a um nível pessoal: “Até que ponto eu tenho sido capaz de respeitar a minha casa, de cuidar dela e de zelar por ela? Dentro da minha casa, no meu planeta, será que sou capaz de ter respeito por todas as formas de vida?”

Concluindo, a melhor maneira de conseguirmos estes três níveis de sustentabilidade é através da meditação. Eu estarei numa melhor posição para fazer algo pela sustentabilidade do planeta e do mundo ao meu redor ao começar em mim mesmo, ao criar um padrão mental correto que, em última instância, significa aceitar a responsabilidade. Se eu pensar que o mundo lá fora é da responsabilidade das outras pessoas – “como é que eles fizeram aquilo?, “eles não deveriam ter feito aquilo”, “por que é que eles fizeram aquilo” etc –, então não serei capaz de dar qualquer contribuição para criar uma mudança positiva. No entanto, se pararmos por um momento e nos perguntarmos qual é o nosso papel dentro de tudo isto, então seremos capazes de ver que nós temos a responsabilidade de ajudar a criar um mundo melhor.

Materialismo insustentável

Nas minhas visitas pelas cidades do mundo inteiro o que mais me impressiona é a desigualdade. Ela cresce rapidamente e não demonstra sinais de diminuir. Eu acredito que não são os planos dos governos que irão mudar a desigualdade, mas apenas a consciência humana. Nós temos que mudar este padrão de “cabeças quentes” e “corações frios”. Em vez disso “corações quentes e cabeças frias” podem criar uma grande diferença. A causa profunda da desigualdade de hoje em dia é o materialismo. É algo exuberante e que não existe apenas entre a classe rica, mas também existe entre os pobres. Eu vi favelas com televisores a cores. Foi uma grande surpresa para mim, algo que eu não esperava. O materialismo também toca os temas do consumismo, das mudanças climáticas e da escassez dos recursos. Eu não preciso acrescentar nada sobre estes assuntos; tem havido investigação suficiente e vocês sabem sobre estas coisas.

No entanto, eu quero relacionar o conceito do materialismo com outra coisa. O materialismo está muito conectado com a matéria. Em vez de entenderem que a vida é cooperação e convivência, o desejo dos seres humanos pela conquista da matéria exterior resultou numa triste realidade.

Nos tornamos escravos da matéria, e estou pensando particularmente sobre a matéria que compõe este meu corpo físico. A partir do momento em que eu tento possuir a matéria, me torno um escravo dos meus próprios sentidos físicos e do desejo de satisfazê-los. Assim, o materialismo e a conquista da matéria levaram na verdade ao esquecimento do ser interior, permitindo que a matéria tomasse conta da minha consciência e da minha mente.

Despertando a consciência humana

A solução para o materialismo é o despertar do coração humano, o despertar da consciência humana, para que eu possa verdadeiramente compreender que a felicidade que eu procuro não será encontrada através de uma casa maior ou de um carro maior ou, ainda, de uma televisão maior. É na verdade encontrada ao ir para dentro.

Não estou me referindo a algo que seja abstrato e em que eu me sento num canto e medito sozinha. Estou me referindo a algo que é muito prático e necessário no mundo de hoje. Falo da simplicidade, a capacidade de reduzir as nossas necessidades pessoais, de modo a sermos capazes de diminuir a nossa pegada de carbono para que possamos encontrar a felicidade que precisamos dentro de nós e não pensarmos que a felicidade está nas coisas externas.

No momento em que descobrimos que os verdadeiros tesouros se encontram dentro de nós, teremos um coração aberto, generoso, um coração que é capaz de partilhar. Saberemos então que as coisas realmente não nos pertencem. Estamos aqui neste momento e podemos cuidar delas, mas elas também existem para serem partilhadas com os outros à nossa volta. Acredito que esta é a mudança que pode trazer a transformação na sociedade. É uma mudança que tem que acontecer dentro de nós, mas que ao acontecer dentro de nós, pode também ser partilhada com o mundo.

Finalmente, eu gostaria de encerrar com uma experiência do Fórum do Milênio pela Paz da ONU, no ano 2000. Foi a primeira vez que os líderes espirituais religiosos foram chamados à ONU. Quando todos estavam juntos, eles falaram sobre uma única coisa, todos eles tinham a mesma história: “Temos mais recursos, mais tecnologia, mais informação, mais dinheiro etc, contudo, os problemas do mundo multiplicaram-se em cada uma destas áreas”.

Durante o Fórum realizamos que somente quando a consciência humana mudar estes problemas poderão melhorar. Para mim, esse foi um momento marcante e muito poderoso, no qual os políticos perceberam que existe a necessidade de uma mudança de consciência. Contudo, a consciência não pode ser mudada por um decreto. Ela pode começar a mudar quando eu mesmo alcançar essa percepção.

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